domingo, 26 de outubro de 2014

Lagoa das Flores foi aterrada com entulhos da demolição da antiga Igreja Matriz

A professora Silva A.Santos Paupitz escreveu o artigo abaixo, sob o título "Lagoa das Flores - lenda urbana", que foi postado neste blog no dia 22/10/2010. Houve um prefeito, que Deus o tenha, mandou aterrar a Lagoa das Flores e jogar o entulho da demolição da Igreja Matriz de Araçatuba, hoje Catedral Nossa Senhora Aparecida. 

Diz a lenda que enquanto tiver um caco da velha igreja na Lagoa da Flores, aquele lugar será amaldiçoado. As enchentes continuarão assolando seus moradores ao redor.

Na verdade, a grande maldição (ou burrice administrativa) foi aterrar a lagoa e autorizar loteamento na sua margem nos velhos tempos, quando nem se falava em meio ambiente, tirando o espaço da água. 

Tenho certeza de que o prefeito Cido Sério retirará o último caco da Igreja Matriz daquele lugar para que o martírio cesse. As escavações por parte da Prefeitura foram feitas e não terminaramHaverá no local uma bonita área de lazer. 

Antiga igreja matriz N.S. Aparecida
Demolida para construir um templo de
arquitetura moderna - o disco voador 
Silvana A. Santos Paupitz*


Há mais ou menos cinco anos moro nas proximidades da tão polêmica Lagoa das Flores, e lamentavelmente esse nome não lhes faz justiça! Sendo assim, portanto parte da minha realidade é parte da Lagoa que tem sido
objeto de meus estudos e projetos desenvolvidos com alunos da Unidade Escolar José Augusto Lopes Borges, Araçatuba-SP.  

Vítima de enchente
Lagoa das Flores de Araçatuba-SP


Na busca do histórico do local referido, percebi uma forte ligação desta parte da natureza com a derrubada e destituição da igreja de Santo Onofre que sustentava com orgulho o título de padroeiro da cidade e para alguns,
lamentavelmente, conhecido por proteger bêbados e prostitutas.  Sobre seus destroços construíram uma suntuosa catedral homenageando uma santa de altíssimo valor, Nossa Senhora Aparecida. Por favor, não me
entendam mal, nada tenho contra os santos e as santas, sou contra atitudes arbitrárias, e como diziam os “antigos”, desvestir um santo para vestir o outro... 



Conta à história que um representante da Igreja Católica ordenou a construção da nova igreja, mas que fosse conservada em seu interior uma pequena relíquia da antiga igreja daquele santo não muito “católico”. De fato a igreja enchia os olhos dos crentes e não crentes. Era um belíssimo cartão postal, mas, como o ser humano nunca está contente e necessita se encaixar na tão famosa era da modernidade trouxe abaixo a venerada Igreja Matriz Nossa Senhora Aparecida para mais uma bela homenagem a santa de valor. 
Catedral Nossa Senhora Aparecida
Araçatuba-SP- o disco voador 


Se me permitem a comparação ousada, um “disco voador” de concreto armado sobre a base da antiga igreja fora construído.  Bom, retomamos o nosso ponto de partida; a Lagoa das Flores, esta recebeu em seu veio, sem reclamar a priori, os destroços da igreja que havia através da força humana desabado. Um verdadeiro sítio arqueológico santo nasce neste local. Sem que o algoz perceba, a mãe natureza cava seus tuneis entre as entranhas da terra em absoluto silêncio e aflora a alguns metros do antigo leito, pequenas vidas aquáticas.  Mansa, serena e ao mesmo tempo forte, ameaçadora, vingativa foi se apoderando do local transformando-o na nova moradia.  


Lenda urbana? Não.  Oficial ou oficioso são fatos até agora relatados. Tomo por lenda urbana, talvez, a história oficiosa de que alguns esotéricos que por Araçatuba passaram, alegaram que em seus corpos e espíritos sentiam uma força negativa demasiadamente grande devido à aura pesada e assustadora que paira sobre toda a cidade e se contextualizarmos essa parte da história de Araçatuba com a história do México, percebemos que sua capital fora construída pelos seus colonizadores sobre a antiga cidade asteca de nome Tenochtitlá.  Será que a cidade do México sofre o mesmo estigma?
Capela de Santo Onofre
Primeira igreja de Araçatuba - 1915

Qual seria a solução para acabar com essa “urucubaca” que envolve nossa cidade? Reconstruir as igrejas destruídas sem nenhum censo de preservação da memória histórica e cultural? Remover os destroços da Matriz que furiosamente obstruiu o veio da vida e repousa no leito natural da lagoa? Devolver ao santo dos bêbados e das prostitutas, o que é seu por direito, e que sem pudor alguns homens de “moral” surrupiaram? Agindo assim a Lagoa das Flores se tornaria inofensiva e pacata novamente onde fora esculpida de forma natural ou humana? Enchentes não mais levariam pequenos seres para os quintais de nossas casas e o que foi conquistado com muito suor e a longas prestações seriam preservados?



*Silvana A. Santos Paupitz é professora de História.